Jovens egressos da Fase recebem profissionalização em gastronomia

Foto: Charles Guerra (Diário)/Adolescentes com passagem pelo Case e Casemi aprenderam a arte da culinária

Adolescentes e jovens egressos da Fundação de Atendimento Socioeducativo do Rio Grande do Sul (Fase) receberão o certificado de um curso de gastronomia para ir em busca de vagas no mercado de trabalho. A formatura da turma acontece na tarde desta quinta-feira, no Centro Social Esperança (Rua Vale Machado, 1.438), em Santa Maria.  

Desde julho deste ano, 10 jovens, todos do sexo masculino, de 17 a 19 anos, passaram as manhãs na cozinha da Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), de segunda a quinta-feira. Entre formas, fornos e temperos, eles puderam esquecer o mundo que os levou ao cumprimento de medidas socioeducativas e se dedicaram à arte da culinária. Sob os olhos atentos do chef de cozinha Bruno Hentschke, os jovens experimentaram a alquimia que transforma os ingredientes em alimento.

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Os alunos passaram pelo Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) e pelo Centro de Atendimento em Semiliberdade (Casemi), ambos em Santa Maria, por terem cometido atos infracionais. A maioria deles se envolveu em homicídios, furtos e roubos. O Programa de Oportunidades e Direitos (POD), uma iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos do Estado, é oferecido aos socioeducandos quando recebem a avaliação na fase de progressão de medida. Para aderir ao programa, eles devem receber a medida socioeducativa de liberdade assistida ou a extinção da medida.

Na cidade, o POD é encampado pela Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi). São oferecidas 25 vagas para Santa Maria e região, já que alguns jovens de outros municípios cumprem medidas no Case e no Casemi locais. Se surgirem mais interessados do que as vagas disponíveis, eles ficam em uma lista de espera.

Os jovens que participam do programa ganham bolsa de meio salário mínimo regional, o que equivale a R$ 435. As regras para receber o auxílio não são negociáveis, conta a psicóloga da Renapsi, Bruna Possobon de Souza:

_ Eles precisam de 75% de frequência escolar, fazer o curso ou trabalhar e não se envolver em nenhum ato infracional. As duas primeiras, se descumpridas, resultam em perda da bolsa. Quem não cumprir a última regra é desligado.

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Segundo Bruna, a maioria das evasões do programa é motivada por faltas na escola. O trabalho da equipe não cessa com a desistência. É aí que eles procuram o jovem, a escola e a família para entender o que acontece com esse jovem. Caso o aluno não tenha a frequência mínima, é feito um relatório e encaminhado ao Juizado de Infância e Juventude para informar a situação do inscrito.

Os relatórios de desligamento apontam para um índice de 9% de reingresso ao crime em um universo de 100%. Após a conclusão do curso, a equipe não tem informações do que acontece com eles, mas muitos continuam voltando para pedir o suporte oferecido pela equipe técnica. Durante a permanência do jovem no programa, ele recebe acompanhamento psicológico, ajuda na procura por vagas de emprego e outros encaminhamentos.

_ Se eles têm um problema em casa, eles nos procuram. Temos um vínculo muito positivo com os meninos. A gente pergunta o ato infracional deles no começo. Depois, ao longo do curso, não enxergamos eles pelo que cometeram, mas como adolescentes que estão num novo ciclo da vida, com outra visão de mundo _ ressalta a psicóloga.

Pedro*, 19 anos, é o aluno mais antigo da Renapsi. Ele cursou a formação de operador de caixa, mas a gastronomia despertou a curiosidade do jovem:

_ Eu cozinhava só arroz e feijão. Agora, aprendi até pratos de outros países. Gostaria muito de trabalhar na área. Estou desempregado, não tenho serviço. Queria um futuro melhor. Adquirir minha casa, ter meu carro _ sonha o estudante do 9º ano do Ensino Fundamental.

João*, 19 anos, aprova os cursos e elogia as instrutoras:

_ Adorei o curso de operador de caixa, me ajudou muito com a matemática na escola. Também gostei do curso de gastronomia, porque aprendemos a fazer até sushi, pratos que eu nunca tinha visto. A gente adora as instrutoras . Elas puxam a nossa orelha, são melhores que tornozeleira eletrônica _ brincou o jovem.

*Os nomes dos alunos foram alterados nesta reportagem para preservar as identidades

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A INICIATIVA
O que é o Programa de Oportunidades e Direitos (POD) 

• O curso de 385 horas é uma iniciativa da Secretaria do Desenvolvimento Social, Trabalho, Justiça e Direitos Humanos do Estado, executada pela Rede Nacional de Aprendizagem, Promoção Social e Integração (Renapsi), uma organização não governamental (ONG) de Brasília (DF)
• A capacitação é um dos braços do Programa de Oportunidades e Direitos (POD), instituído por lei estadual como política pública do governo do Estado em 2013
• Os órgãos executores interessados em desenvolver os projetos concorrem ao edital de chamamento público, e os selecionados firmam um termo de colaboração com o Estado para que recebam os recursos financeiros para os projetos

Os participantes 

• Dos 25 participantes, seis jovens são moradores de outros municípios (três de Dom Pedrito, um de São Martinho da Serra, um de Nova Palma e um de Dilermando de Aguiar)
• Eles são encaminhados aos cursos profissionalizantes oferecidos pelos Centros de Referência de Assistência Social (Cras) e Centros de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) de suas cidades. Caso as prefeituras não ofereçam nenhum curso, eles podem optar pela modalidade online do curso de auxiliar de escritório ofertado pela ONG
• Outros 19 jovens são de Santa Maria, sendo que 10 irão concluir o curso. Os outros nove estão trabalhando (seis informalmente, um com carteira assinada e dois como jovens aprendizes)